sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 ABRIL 1974


Para mim, uma data inesquecível. Eram 5 horas da manhã, Lisboa ainda dormia. Estava eu em Angola, Nordeste da Lunda (Diamang). Eram 3 horas da manhã. O meu querido Amigo Tomás e mais dois outros 2 companheiros estavamos numa patuscada. O Tomás, belíssimo garfo estáva a fazer uma omolete "au flanbom". Ligamos um rádio transistor de ondas ultra-curtas para ouvirmos notícias do mundo, através da R.S.A. (Rádio South África ) pois outras rádios eram quase impossíveis de serem audíveis por aquelas paragens nesses tempos. Amigo Tomás deu um pulo e gritou: -Amigos! Houve agora mesmo um golpe de estado militar em Portugal. Enquanto petiscavamos e em nossas gargantas escorria um precioso néctar, ouvidos colados ao receptor, abraçados uns aos outros, sentiamos as lágrimas do amigo Tomás junto de nossas faces. Foram momentos de loucura e silêncio. O resto do dia foi para esvaziar algumas garrafas que constituíam reservas para dias especiais. Nao sei como nossos estomagos aguentaram tanto. Estava preocupadíssimo, minha mulher por motivo de saúde tinha regressado no dia 23 à noite a Portugal, juntamente com minha filha de 3 anos completos e meu filho que ainda não tinha feito dois anos. Meu contrato de trabalho com a empresa terminava em 7 de Novembro desse ano. Pediram-me para ficar mais uns tempos até que outro colega me fosse substituir. Só lá estive até dia 16 de Novembro e, no dia 18 estava com minha família reunido a festejar o 2º aniversário de meu filho. Não consegui conter as lágrimas e, não tenho vergonha de o dizer. Note-se que em certas províncias ultramarinas se quizessemos saber notícias de Portugal era somente via outros países. A então Emissora Nacional ou o Rádio Club Português, quer em Angola quer em Moçambique mal chegavam a nossos ouvidos. As grilhetas foram mandadas ás ortigas, enfim a liberdade estava à vista. Estou como diziam uma das nossa rainhas depois da revolução de 1640, Mulher de D. João, antes rainha por uma hora do que duquesa toda a vida. VIVA ABRIL!!! ABRIL SEMPRE.



18 comentários:

Anônimo disse...

Então...

Bom feriado!

Beijinhos

Isamar disse...

Um homem também chora, João.
Venho deixar-te um rubro cravo de Abril com aroma de Liberdade. Lutemos por ela. Não deixemos amordaçar-nos mais.

Mil beijinhossss

Maria Clarinda disse...

Pois...eu também vim de Angola, só que eu era a 4ªgeração, com um filho como a 5ª e tive que deixar um País que julguei fosse meu...a caminho do Brasil...e, agora aqui.
Gostei muito do teu post.
Jinhos mil

Pedro disse...

Para ti terei sempre (no mínimo)um enorme sentimento de gratidão por me teres ensinado o que é viver em liberdade. Obrigado, sempre.

http://pausa.wordpress.com/2008/04/25/e-sempre/

Espaço do João disse...

Pedro.
Não tens nada de agradecer-me. Só fiz a minha obrigação como pai e, com a responsabilidade que me era devida. Tu que és pai, também pesa sobre os teus ombros igual sirtuação.Faz com que teu filho tenha sempre presente quanto vale a liberdade. No entanto lembro-te novamente que a liberdade tem limites e que não te esqueças de transmitir a teu filho quanto ela é salutar.

MMV disse...

Sempre Portugal... Sempre Abril!

Um grande abraço

Rubi disse...

E viva a Liberdade!

Menina Marota disse...

Também vivi em Angola a minha infância.

As saudades que tenho de tudo que lá deixei, ainda são enormes... especialmente dos Amigos...

Um abraço ;)

São disse...

Meu querido Amigo: ABRIL; SEMPRE!!
Um abraço fraterno.

Bichodeconta disse...

Não consigo falar de Abril sem que a emoção se apodere de mim.. Dia muito especial..obrigada por neste espaço se poder gritar Abril e sobretudo por ter ensinado ao seu filho o sagrado valor da liberdade..um abraço, ell

amigona avó e a neta princesa disse...

João, obrigada pela partilha...saio comovida...beijos...

Isamar disse...

Que é feito de ti amigo? Não sais do cantinho florido?

Deixo-te mais um cravo com aroma de Liberdade.

Beijinhos

vieira calado disse...

Eu estava em Paris, na Universidade, e eram umas dez da manhã quando alguém que chegou, comunicou a notícia.
Não sei quem foi arranjar um rádio portátil mas ouvia-se tão pouco, que ficamos na mesma.
Só vim a saber o que acontecera à noite, visto que os rádios e Tvês francesas pouco esclareciam.

Um grande abraço para você.

greentea disse...

andei por essas mesmas paragens e sei bem commo era - ouviamos radios de todo o mundo menos as nossas e apanhávamos muita noticia que não era cá divulgada
mas há momentos inesqueciveis e imagino uma "bomba" dessas a cair no meio do mato, nessa época!

Um abraço . olha , agora vou dedicar-me à ingricola de cogumelos ,,, vai ver

Crassula disse...

Um grande abraço, e como já foi dito os homens também choram!

Rose disse...

Tenha uma ótima semana, meu amigo querido.
Bjs.

Lacram disse...

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vire
como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.

Manuel Alegre

Espaço do João disse...

Caro amigo.
Obrigado por sentir Abril. Muitos daqueles que viveram toda sua infância fora do actual Portugal e,conseguem verificar que este rectângulo junto à beira mar plantado no canto mais ocidental da Europa tem um desenvolvimento que nada se compara do antes de Abril de 1974, devem agradecer aos valorosos Capitães de Abril. Graças a eles se consegue hoje estar aqui com troca de Ideias. Repare-se o que se está a passar em Cuba com o afastamente voluntário do chamado mentor do povo ( Fidel de Castro ). Estavamos numa autêntica ditadura e, seja lá quem for , não me venha cá dizer que estamos pior que antes da nossa Revolução. Felizmente não temos as grilhetas nem os Bufos que outrora não sabiam fazer senão andarem de ouvidos à escuta em cada esquina e nunca sabiamos com quem estavamos a falar. Podes não crer, mas eu bem sofri na pele esses tempos. Já poucos se lembram do golpe de Beja ( Varela Gomes ), do fracassado golpe das Caldas, e já agora bem recentemente lembrado pelo Presidente da República que também no seu consulado como 1º ministro ajudou a destruir a memória dos portugueses. Lembrou-se do betão e do asfalto, esqueceu-se da instrução, da educação, da saúde e das finanças. A fonte da união europeia esgotou-se. Um abraço do João.