sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Liga dos Combatentes

Estamos no ano de 2010.
A guerra no ultramar que se dizia Português terminou com o 25 de Abril de 1974. Passados que são 35 anos, quantos de nós se lembra daqueles que combateram os seus irmãos na sua própria terra? Eu fui combatente na rectaguarda, não peguei em armas, mas não me posso esquecer da década de 1960. Completei 4 anos e nove meses de serviço militar obrigatório , parte da minha juventude, foi esquecida, mas não posso esquecer aqueles que ainda hoje sofrem na pele os traumas da guerra colonial. Quando se fala da liga dos combatentes, vem-nos á mente só os combatentes da grande guerra 1939_1945. Lembremo-nos que dessa guerra poucos existem, mas da guerra colonial, existem ainda muitos, uns que pegaram em armas, outros que deram apoio logístico, não deixando de serem combatentes na mesma. A Liga dos Combatentes continua a existir, com o empenho de pessoas que não querem que caia no esquecimento, não só aqueles que tombaram em combate como também tentar dar apoio aos trumatizados que por todo o Portugal proliferam. Cabe ao Governo Português dar todo o apoio a todos aqueles que pegando em armas ou não, deixaram pais, namoradas, mulheres, filhos e, outros dependentes , á sua sorte, muitos deles único amparo de família. Conheço alguns que práticamente não nos podemos aproximar deles pois são violentos ou desconfiados. Outros encontram-se isolados em casa, não admitindo sequer a presença de familiares. As suas conversas convergem imediatamente para o teatro da guerra. Tenho por ex. um familiar que certa ocasião veio passar uns dias a minha casa e, certa noite pela madrugada, acordei com um barulho esquisito que me obrigou a levantar para observar o que se estava a passar. Fiquei apavorado pois fui encontrá-lo sentado na borda da cama , sonâmbulo, gritando mata, mata, que é turra. Com muita calma, fiz com que acordasse, ligando um simples receptor de música, até que ele acordou e, dei-me com ele a chorar. Certo que na ocasião ele pediu-me desculpa, dizendo-me que estava a sonhar. Acredito que fosse esse o facto. Passados dois ou três anos, fui até casa dele, não havia outra conversa que não fosse a Guiné. Por dá cá aquela palha, mostrava-se irritado e, até agressivo. Como sou um pouco mais velho do que ele e, sabendo antecipadamente quanto ele passou, tratei-o sempre com a melhor atenção possível. No ano transacto, deixou-me de falar, telefono-lhe várias vezes mas, nunca me atende. Sei do seu estado através de seus filhos, raramente fala com alguém que encontre na rua e, anda sempre desconfiado, julgando que está a ser perseguido. É triste que os sucessivos governos que se seguiram após o fim da guerra esqueçam aqueles que deram o seu sangue pela Pátria.Outros sofrem fazendo sofrer os seus familiares e conhecidos. Este escrito, é somente para lembrar àqueles que não souberam e não sabem o que é o teatro de guerra. Aqui em Vila Nova de Santo André, já está criada uma secção da liga dos combatentes, gostaria que quem estiver interessado, se faça sócio ou entre em contacto com a respectiva liga de maneira a darmos o nosso contributo para que os nossos Governantes se lembrem daqueles que se bateram vigorosamente pelo nosso Portugal , que estão completamente traumatizados e estropiados. A todos que lerem estas palavras que se lembrem como uma nação com 900 anos tem esquecidos os seus heróis. Este ano comemora-se os 100 anos da implantação da República, lembremo-nos também dos COMBATENTES.

12 comentários:

Bichodeconta disse...

Não posso estar mais de acordo, há que não esquecer estes combatentes e respectivas famílias num sofrimento que não se esgotou com o fim da guerra.A muitos esse pesadelo acompanha até hoje, quiçá até ao fim dos seus dias. Um abraço e bom final de semana..

Concha disse...

Estou a ler neste momento, o livro de Júlio Magalhães «Um Amor em tempos de Guerra»,que é um retrato fiel da guerra no Ultramar.
Infelizmente também sei e vivi este drama,e,era apenas uma criança,perdi um irmão também na Guiné...

Beijinhos amigo João!

Rosan disse...

oi João.
penso que as gerras destroem vidas em todos os tempos em que elas existiram, sofrem os que matam, os que morrem, as familias, os sobreviventes...
e os governos, não se importam muito com eles, lhe são uteis em tempos de gerras depois são esquecidos, e abandonados a propria sorte, sejam eles felizes, ou pessoas que não encontrantam mais sentido em suas vidas.... sofrem eles, os ex combatentes e todos os que convivem com eles...
temos que eliminar as guerras, para que haja vida plena no planeta...

beijo

São disse...

O stress pós-traumático é uma terrível e dolorosa herança que destrói a vida da pessoa e implica muita dor para quem com ela priva de perto.

Considero que essas pessoas deveriam ser especialmente apoiadas.

Consequentemente, apoio totalmente o que dizes neste post, tão importante.

Um grande e solidário abraço.

menina alice disse...

Belo texto, caro sogro. Impossível não ficar com vontade de ajudar. Vénia.

Pedro disse...

Eu como não sei muito bem o que dizer só te posso mandar, à distância, um enorme abraço, cheio de orgulho de ter sido criado por um pai como tu.

Beijos, muitos

osmago disse...

Amigo João
Como combatente que fui e com muito orgulho, aqui lhe envio um grande abraço de reconhecimento.
Os vários governos que se seguiram ao 25 de Abril vão aguardando na obscuridade dos seus gabinetes, que os combatentes do antigo ultramr vão fenecendo, para tornar mais fácil a resolução do problema que não foi capaz de merecer a sua atenção.
Bom Ano
Osvaldo

AvoGi disse...

Infelizmente em Portugal isso é normal.Só quando se tem força e sangue na guelra é que a Pátria se lembra de nós, a partir de um momento nada mais se faz.

Paula disse...

Os combatentes da guerra colonial foram sem dúvida uns heróis e infelizmente o meu grande amigo da escola secundária lá ficou e outro não morreu mas perdeu toda a beleza que tinha, era um dos rapazes mais bonitos da minha idade e veio completamente desfigurado, nem sei como sobreviveu. E as famílias o que passaram?
Quem tinha filhos homens como a minha mãe, só desejava que a guerra acabasse. O meu irmão foi dos Comandos mas felizmente já não foi para a guerra porque é mais novo do que eu.
Amigos meus estiveram em Lisboa na revolução de Abril e foi sem dúvida a nossa grande festa, porque os que estavam fora regressaram e terminou a tortura de quem detestava o regime e a guerra sem fundamento. Viva o 25 de Abril!!!
Beijinhos,
Ana Paula

Ana Sousa disse...

Muito bem meu pai... gostei do texto e sei do que falas...

Beijos

Benó disse...

Belo texto, amigo João. Obrigada pela visita pois já havia muito tempo que não nos visitávamos. Os nossos jardins, pelo menos o meu, estão em descanso. A chuva e o frio não me têem deixado fazer os trabalhos de que gosto e que já vão sendo necessários. Espero melhores dias.
Sobre a porcelana, deixe-me dizer-lhe que eu não faço as peças em porcelana sòmente as pinto com pigmentos próprios que depois vão à mufla para serem fixados.
Desejo-lhe uma boa semana e...apareça sempre.

Unknown disse...

Sim senhor.é realmente um belo escrito que faz avivar memórias e contribui para não deixar no esquecimento nem branquear factos reais que fazem parte da nossa memória colectiva.Um abraço.